segunda-feira, novembro 27, 2006

À Bacante

Um suave poema tocou em minha calma
Um murmúrio de asas e trombetas
Assinalando as portas abertas
que existem em minha alma.

Será que quando as mexo e toco
Em tua consciência tu despertas
e te colocas em aguda atenção
por estes murmúrios que provoco?

Sou um aventureiro buscando a rota
pelo teu desconhecido oceano
e pela senda intocada de teu peito...

Sou um pescador que não aporta
quando reconhecido algum engano,
ou quando tenho amor em meu leito!

* Achei este poema em meus arquivos. Pelo estilo, acho que é meu. Se alguém tiver prova em contrário, que ma forneça... :-)

quinta-feira, novembro 23, 2006

O Autoconhecimento

Os acontecimentos em nossas vidas vinculam-se a nossos processos mentais, ou seja, que os acontecimentos externos são ecos de nossa vida interior. Muitas vezes sofremos revezes e não sabemos entender que tais situações aparentemente adversas resultam do equilíbrio que a vida tenta imprimir em nós.

Muitas vezes, também, coisas aparentemente ruins neste plano horizontal são interpretadas como desgraças, e a velha pergunta ("por que coisas ruins acontecem com pessoas boas"?) vem a nossos pensamentos.

Contudo as coisas acontecem por estarem enraizadas em nossas mentes. Se buscarmos "A", não vem "B"; se pensarmos e quisermos "A", e falarmos para os outros que queremos "B", vem "A", pois fixamos nossos corações em "A". Neste último ponto as pessoas dizem que a vida é uma incerteza, e alguma razão existe para isso: Numa existência cumulada de variedades e dispersões, encontrar algo firme parece-nos tarefa impossível.

As pessoas pensam: "foi a mente que nos traiu", mas não é a mente que nos trai, somos nós que, não nos conhecendo suficiente pra enxergar o que somos verdadeiramente, não entendemos nossos processos mentais. Muitas vezes a mente está dizendo uma coisa que não somos capazes de escutar, devido à nossa própria ignorância de nós mesmos. Aí, então, este processo mental vem à tona, aparentando ser uma "surpresa", mas as raízes dessa "surpresa" já estavam estabelecidas pelos nossos processos mentais já havia algum tempo.

Porém, quando começamos a entender como a mente age, começamos a perceber que nossa vida é construída conforme nossos pensamentos, sentimentos, palavras, ações. É necessário, portanto, aprender a conhecê-la, pra que não existam surpresas desagradáveis. Como diz o ditado: "quem plantou abacaxi, não pode colher mamão".

Mas existe algo como conhecer a mente? Isso é tema pra uma reflexão mais profunda, pois como o instrumento pode se utilizar para trabalhar a si mesmo? Como o martelo pode se bater? Ou a chave se apertar? Na realidade precisamos conhecer o "Si Mesmo", que é a raiz metafísica da mente. E conhecer a si mesmo demanda uma diversidade de trabalhos interiores e exteriores, que, quando vemos o caminho a ser trilhado, já perdemos o fôlego (uma outra perspectiva, mais zen: se não existe o espelho, onde se acumulará a poeira? Se não existe caminho, como caminhar?).

Quem conhece a "Si Mesmo" conhece o seu Senhor. Esta é a única tarefa que devemos realizar perfeitamente em nossas vidas. E apesar dos contrastes que tal processo envolve (tristezas e alegrias; dores e prazeres), nós devemos entender que só apreciamos o valor da luz, comparando-a com sombra. O Baghavad Gita diz o seguinte:

"Aquele que não se apega, que é amigo sincero de todos os seres vivos, que não tem senso de posse; que tem a mesma atitude na tristeza ou na alegria, que é sempre determinado, tendo a mente e o intelecto harmonizados comigo, é muito querido a Mim".

Portanto, a questão não é prazer ou dor; tristeza ou alegria; o autoconhecimento é o caminho que se trilha para se transcenderem todas as coisas.

sábado, novembro 18, 2006

Amor e Justiça

"Quando se comportam com humanidade, até aqueles que se proclamam ateus, respeitam a essência de cada religião: o amor. O amor preenche todas as tarefas humanas. Sem o amor, a justiça é uma espada; com o amor ela é abraço fraterno. O amor é a síntese da Lei". (Oscar A. Romero)


A Justiça e o Amor têm que estar equilibrados dentro de nós. Amor e Justiça são como que dois lados de uma balança, daquelas antigas de dois pratos: a mais sensível oscilação de um lado já interfere no outro também. Está claro que tanto um quanto outro conceito são, dentro de nosso ponto de vista, os que utilizamos para demonstrar uma realidade deste plano em que nós vivemos, o plano material, pois na Divindade, Amor e Justiça estão unidos, inseparáveis. Contudo, com nossa tendência para a dualidade, nós os separamos em nossos corações, provocando então um desequilíbrio que antes não existia. O conhecimento antigo entendia que o amor sem justiça transformaria o homem num fanático, e que a justiça sem amor transformaria o homem num tirano.

Portanto, quando na citação acima o sr. Oscar A. Romero diz que sem o amor a justiça é uma espada, é porque ela fere, porque é tirana e não enxerga através do amor, pois o Amor é quem dá visão à Justiça, e é a Justiça que dá a prática, a base, a sustentação neste plano terreno ao Amor para que Ele se cumpra, e o plano de Deus aconteça em nosso Universo. Portanto, se formos pegar o conhecimento chinês, Justiça é Yin, Amor é Yang. Quando equilibrados são a perfeição.

Quanto à dizer que o “amor é a síntese da lei”, o Sr. Oscar A. Romero, pelo que podemos entender, ele nos remete a uma união entre Céu e Terra. Primeiro, para abordar com mais acerto, devemos examinar superficialmente o que quer dizer “síntese” na frase mencionada (qual dos sentidos desta palavra que está sendo utilizado na frase).

A síntese não é um agrupamento de idéias, tal qual uma colcha de retalhos. A síntese é a fusão de idéias que, apesar de aparentemente díspares quando apanhadas em separado, formam, assim que fundidas, um todo coerente e harmônico. Ou seja, a síntese busca encontrar a essência (e sempre descobre que toda a essência nos remete a Deus) e, através da essência, une tudo em um todo congruente.

Então, aquele que faz a síntese reconhece atrás das coisas a raiz oculta que elas trazem consigo, ou seja, a raiz divina e espiritual, a assinatura de Deus. A partir do momento em que alguém tem uma profundidade espiritual tamanha pra enxergar a Realidade das coisas, que Ela não provém deste plano mas de outro superior, é capaz de saber como encaixá-las num todo harmônico e efetuar a síntese.

Outra coisa que se costuma confundir é Lei e justiça. A Lei é a raiz da justiça. Justiça é aplicação, ação, prática da Lei, sendo esta a origem da justiça.

Neste caso, quando o autor diz que o Amor é a síntese da Lei, ele está se reportando a questões superiores à justiça e ao amor tal como mencionamos logo no princípio, pois a justiça e o amor neste plano em que vivemos, conforme dissemos, são entendidos como uma dualidade. Este Amor que ele menciona, que entendemos de ordem superior, é um aspecto de Deus que neste plano reconhecemos através do amor pessoal, concretizado no amor ao próximo. E, somente como forma de esclarecimento, alguns homens mencionam Deus de uma forma não personalista como "A Lei que a tudo e a todos rege", ou seja, como o ponto central através do qual toda a criação tem seus parâmetros.

Quando existe o Amor, Deus está presente. Quando existe o Amor, aquele que ama, na realidade ama a Deus. E quando ama, percebe que quem ama através de si mesmo é Deus.

Então, a partir do momento em que reconhece a essência, realiza a síntese em si mesmo. Por este motivo o amor é a síntese da Lei (da mesma forma com que a justiça também é a síntese da Lei!), porque a Lei (O Grande Arquiteto do Universo: Deus), em sua totalidade e glória ainda está inacessível a nós. E uma das características da síntese é ser uma espécie de resumo, pois a fusão tira o caráter de multiplicidade (muitas coisas separadas) e consegue a Unidade, que é um atributo da Divindade.

sexta-feira, novembro 10, 2006

O VALOR DE UM TESOURO ESCONDIDO

Vivia na China um sacerdote rico e avarento. Amava jóias e as colecionava, acrescentando constantemente novas peças ao seu maravilhoso tesouro escondido, que guardava a sete chaves, oculto de olhos que não fossem os seus. O sacerdote tinha um amigo, que um dia o visitou e manifestou interesse em ver as jóias.

- Seria um prazer tirá-las do esconderijo, e assim eu poderia olhá-las também.

A coleção foi trazida, e os dois deleitaram os olhos com o tesouro maravilhoso por longo tempo, perdidos em admiração. Quando chegou o momento de partir o convidado disse:

- Obrigado por me dar o tesouro.

- Não me agradeça por uma coisa que você não recebeu - disse o sacerdote. - Como não lhe dei as jóias, elas não são suas, absolutamente.

- Como você sabe - respondeu o amigo. - senti tanto prazer admirando os tesouros quanto você, por isso não há essa diferença entre nós como pensa. Só que os gastos e o problema de encontrar, comprar e cuidar das jóias são seus.

O AMOR (EM TRÊS ATOS)



I - Espiritual

Eu sou o caminho para a Unidade
Onde o peregrino encontra a Paz.
Trilhando nesta via da Verdade,
Encontrarás Deus mais e mais.

Eu sou o lenitivo da opressão,
Que faz aplacar toda a dor
Daquele que me pede guarnição:
Por isso que me chamo Amor!

O que bebe em minha Fonte
Muito além do horizonte
Obtém de mim a Eterna Vida.

O que me tem no coração,
De Deus recebe a salvação,
E a Alma a Ele fica unida.


II - Psíquico

Quando duas almas se encantam
E ambas são unidas na Eternidade
A Natureza Divina toda canta
Pois estão mais perto da Verdade.

Beleza há para todo o ser amar
Na busca da Divina Perfeição.
Para isso, é preciso aperfeiçoar
Cada vez mais o seu coração.

Pois todo coração é uma taça
Em busca da beleza superior
Que é a lei de Deus quando cumprida.

E, por mais que cada um faça
Só o que se realiza no amor
Realiza em si a missão de toda vida.


III - Físico

Beleza há quando dois corpos se conhecem
E a Eternidade vem habitar em seu leito.
É a hora que todos amantes não se esquecem:
O coração pulsa mais forte dentro do peito.

Esta forma singela de nosso amor expressar
É a forma mais bela que Deus criou para nós.
Um corpo encontrando outro para amar
Expressa Sua Vontade: não fiquemos sós.

Dizer-te, portanto, que te amo neste momento,
E que em todos os níveis estou pleno deste Amor,
Pode ser que para ti isto não signifique nada.

Mas Deus não quer um filho seu no tormento
Pois fala a meu coração: “Filho meu, sentir esta dor
Significou colocar o pé nesta Divina Estrada”.