Se o eterno não edificar a casa, em vão trabalham
aqueles que a edificam.
Salmo
127:1
(Cântico
das peregrinações de Salomão)
Aplicai-vos, pois, de todo o vosso coração e vossa
alma a buscar o Senhor vosso Deus. Construí o santuário do Senhor Deus, para
trazer a arca da aliança do Senhor e os utensílios sagrados de Deus ao templo
que será edificado ao nome do Senhor.
1
Crônicas 22:19
O Eu é o mestre do eu. Cada um é o seu próprio mestre
e refúgio, quem outro poderia ser? O completo domínio de si mesmo é o único
refúgio, difícil de alcançar.
Sidarta
Gautama (Buda)
Maçonaria Operativa e Maçonaria Especulativa
Na
passagem da maçonaria operativa para a maçonaria especulativa, muitos dos
detalhes da nobre arte da cantaria foram deixados de lado em prol da adaptação
realizada. Os livres pensadores que adotaram os ensinos maçónicos não estavam
interessados na prática manual do canteiro, que era um serviço pesado e,
portanto, buscaram simplificar no simbolismo.
Esta simplificação simbólica trouxe um relativo
"empobrecimento" no sentido do conhecimento da arte, onde diversos
detalhes do trabalho nos canteiros, ao serem deixados de lado, obscureceram
facilitações teóricas no caminho do auto-conhecimento.
Para se adentrar mais nestes aspectos, e verificar sua
real importância, devemos dizer que a palavra "cantaria" vem,
etimologicamente, do latim "canthus",
que significa "aresta". Desta forma, o conceito de cantaria se refere ao
trabalho em pedras objeti-vando seu esquadrejamento, ou a sua formatação no
sentido de servir ao projeto construtivo. Na maçonaria especulativa,
simplificamos: "tornar a pedra bruta em pedra cúbica".
Maçons trabalhando
O que é do desconhecimento da maioria dos maçons é o
fato de que o conhecimento tradicional sobre o trabalho operativo era
transmitido através de técnicas que sempre buscavam um sentido efetivo de
aperfeiçoamento não só do trabalho, mas também do profissional, pois se
entendia que a perfeição daquele passava pela perfeição deste, em todos os
aspectos, dentre eles o prático, o psíquico e o intelectual. Quanto mais
aperfeiçoado internamente, mais perfeita será a habilidade do obreiro e, consequentemente,
da obra.
Aqueles que estudam os textos antigos percebem que a
utilização metafórica do trabalho comum, analogicamente relacionado à espiritualidade,
é algo constante nas civilizações do passado - egípcia, caldaica ou medieval,
ou por aqueles que, nos sertões mais afastados dos grandes centros urbanos,
ainda empregam aquelas técnicas artesanais tradicionais.
No Oriente, por exemplo, existia toda uma explicação
simbólica para a prática do ofício da tecelagem, onde os fios paralelos, presos
ao tear, são os influxos espirituais manifestados através das leis universais,
enquanto que os fios horizontais, adicionados ao serem tecidos, são as
atividades nos planos manifestados. Assim, simbolicamente, nossas ações,
quando levando em conta os influxos espirituais do "Grande Tecelão do
Universo", só poderão ser realmente profícuas a partir do
momento em que com estas sejam harmônicas. A falha de um ponto na tecelagem
poderia deitar fora todo o trabalho.
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Da mesma forma, no ocidente, temos exemplos de
diversas profissões -senão todas as que existiam na antiguidade ou idade média-
que se utilizavam desta espécie de simbolismo para ensinar que, ao se trabalhar
o material, também se trabalhava em outros aspectos do ser, e que era
necessário ter atenção para isto. A matéria-prima artesanalmente trabalhada
pelo obreiro era o espelho onde ele poderia apreciar seu próprio caráter.
Outra coisa que é geralmente menosprezada pelos
estudiosos é o fato da maçonaria operativa ter em seu bojo aspectos filosóficos
profundos, e que a maçonaria especulativa somente pôde frutificar em seus
estudos porque isto já era uma realidade à época de seu nascimento. Alguns
estudiosos, inclusive, desprezam esta espécie de abordagem, entendendo que
apenas com a maçonaria especulativa é que se obteve um aprofundamento no
conhecimento, tendo em vista o advento no seio daquela ordem de pessoas
letradas, pensamento com o qual, respeitosamente, não nos alinhamos.
Essa espécie de perspectiva toma por base um
preconceito cultural, onde se estende o olhar de nossa época para medir todas
as épocas anteriores. E este preconceito, que não sabe enxergar seu próprio
anacronismo, faz com que os sábios de nosso tempo se limitem a uma forma de
pensar estreita, sem realmente aproveitar o conhecimento oriundo da
antiguidade. Mas, isto já seria a matéria de um outro trabalho. Apenas mencionamos
para que o leitor possa levar em conta, também, que se quisermos extrair a
essência de qualquer coisa, devemos conhecê-la sem preconceitos, conforme é
propalado pelos mesmos ensinos maçônicos.
As ferramentas do Canteiro
Como são desconhecidas pelos maçons atuais muitas das
ferramentas dos canteiros, abaixo vão exemplos de algumas poucas ferramentas
modernas utilizadas atualmen-te no trabalho de cantaria artesanal, fabricadas
pela empresa americana Trow & Holden Company:
Como se pode perceber, existe uma infinidade de
ferramentas utilizadas no trabalho do canteiro além daquelas mencionadas na
maçonaria especulativa. É óbvio que os processos de formatação da pedra bruta
atravessavam uma série muito maior de detalhes, hoje desconhecidos na
maçonaria especulativa, que levavam os mestres obreiros a situações reflexivas
não encontradas na especulação.
A figura do camartelo (ferramenta parecida com um
martelo pontiagudo, que é utilizada para o primeiro trabalho, mais grosseiro,
na pedra bruta), por exemplo, utilizada no Rito Schrõder, provém da mais
antiga tradição dos maçons operativos, não absorvida pelos outros ritos em
geral. Numa miniatura do séc. XV, do artista francês Jean Fouquet, mostra-se a
utilização desta ferramenta para o desbaste da pedra bruta.
O "buril", no caso do trabalho em pedra, trata-se de uma
espécie de cinzel pontiagudo [conforme o Hou-aiss, "ferramenta de aço com
ponta oblíqua cortante (... ) para lavrar pedra"], que vai dar um trato
rústico na pedra, podendo ser usada após o "camartelo", ou já
direta-mente (dependendo do tipo da pedra). Também pode ser utilizada para o
início do acabamento no caso de figuras escultóricas
A abordagem que efetuamos neste título serve apenas
para demonstrar que os conhecimentos relativos ao trabalho maçónico operativo
tinham detalhes muito maiores do que os apresentados atualmente, e que a riqueza
destes detalhes poderia levar a aspectos desconhecidos de um simbolismo mais
claro e preciso, objetivando, também, maior precisão no processo de
autoconhecimento e aperfeiçoamento.
Aspectos práticos de como trabalhar literalmente à
pedra bruta
Em primeiro lugar, antes da existência da matéria
prima para o trabalho do canteiro, há a necessidade da sua extração na
pedreira. Neste momento, o artífice escolhe na fonte de qual lugar quererá
extrair o material que deseja. Deve levar em conta para que propósito se
utilizará a pedra, pois a escolha do lugar da pedreira já influi na espécie de
matéria prima que se obterá.
Após a extração da fonte, ou seja, o nascimento da
pedra-bruta em sua forma individual, traça-se todo um plano em que são
considerados os métodos de trabalho no sentido de buscar como resultado a
adaptação da matéria-prima ao lugar em que ela está destinada. Podemos chamar
de aperfeiçoamento, neste caso, o caminho que se faz da pedra bruta até chegar
à pedra polida. Este trabalho, didaticamente, poderia ser classificado em
cinco partes:
1) Punçoar ou burilar - neste momento, fazemos com que as grandes diferenças
existentes sejam atingidas pelo buril até que fiquem pequenas. Neste trabalho,
conforme mostra a figura a seguir, deixam-se normalmente estrias em diagonal;
2) Dentear - depois
do burilamento, utilizamos o cinzel denteado para diminuir ainda mais as
diferenças, buscando eliminar as estrias do trabalho anterior, deixando as
marcas dos dentes desta ferramenta. O cinzel denteado deve ser utilizado de
forma reta, no mesmo sentido das laterais da pedra utilizada. Utilizam-se para
isto diversos cinzéis denteados, dos de dentes maiores aos de dentes menores,
até ser utilizado, finalmente, o cinzel sem dentes, mais conhecido na maçonaria
especulativa. Alguns chamam o cinzel denteado de buril, também;
3) Cinzelar - o
cinzel, propriamente dito, conforme demonstrado na maçonaria, é utilizado neste
momento. Neste caso, começa um trabalho de alisamento da pedra, eliminando a
maior parte das marcas anteriores;
4) Esmerilar - a
pedra de esmeril é utilizada, suavizando o máximo possível as marcas do cinzel.
Na maçonaria operativa, observava-se um movimento manual contínuo e circular
e, aos poucos, e adicionando constantemente a água para eliminar obstruções
(escorregar), a superfície ia ficando lisa;
5) Polir - para
finalizar o serviço, e a superfície ficar totalmente lisa e espelhada,
utilizam-se lixas de diversas granaturas (de 150, 220, 300 e 600), gradualmente
da mais grossa para a mais fina.
trabalho da pedra-bruta à pedra polida
Ativemo-nos em considerar apenas o trabalho em pedra
porque era a perspectiva do trabalho dos canteiros, da qual a maçonaria surgiu.
Outras profissões tradicionais vão conter similaridades com o que aqui foi
descrito.
Relações analógicas entre a cantaria e o trabalho interno
A Extração da pedra-bruta diretamente da pedreira é
muito similar à escolha efe-tuada do profano apto a entrar na maçonaria.
Afinal, a sociedade profana muito se assemelha a uma pedreira, onde a multidão
sufoca o talento individual, fazendo com que muitas vezes o indivíduo não
encontre seu caminho.
É necessário acrescentar que, seguindo a tradição da
maçonaria brasileira, os profanos são escolhidos para integrarem a sublime
ordem. Isto faz-nos considerar a maçonaria como o artífice que visita a pedreira
em busca do material necessário para cumprir a sua obra, entendendo, queremos
deixar claro, a ordem como um canal que veicula forças superiores a este estado
de manifestação.
Sobre este fato, podemos considerá-lo ainda de duas
formas: de maneira macro-cósmica ou microcósmica. No primeiro aspecto, o
artífice seria o GADU que escolheria os aptos a veicularem seus desígnios na
consubstanciação do Templo Universal. Micro-cosmicamente, o próprio iniciado,
em seu trabalho meditativo, identificaria os aspectos de seu ser que deverão
ser pinçados de seu interior e trabalhados conforme estes mesmos desígnios,
para que a verdade seja expressa.
O maçom deve aprender a reconhecer no emaranhado
informe de sua existência cotidiana os aspectos sublimes de seu ser, e seu
trabalho é reconhecer quais deles deverá trabalhar durante sua vida para melhor
expressar sua destreza, ou sua sintonia com o Todo. A isto as pessoas costumam
chamar, talvez impropriamente, de "missão". Na atualidade, o maçom
pode ter em sua frente uma quantidade enorme de perspectivas onde expressar sua
vida. Contudo, somente aquelas que coadunam com seu caráter é que lhe trarão a
verdadeira realização. As outras deverão ser desprezadas, porque quem tudo
quer, nada consegue.
Se o iniciado escolheu a matéria prima correta onde
trabalhar, ou seja, escolheu os aspectos de si mesmo que deverão receber sua
atenção de agora em diante, e que serão trabalhados com suas virtudes, seu
trabalho não será em vão. Contudo, se há falhas na matéria prima, ou seja, se não
escolheu corretamente o aspecto que deverá ser trabalhado, deverá retornar à
pedreira de si mesmo e, através de um estudo mais aprofundado e orientado,
encontrar o material correto para seus objetivos.
Após um exame acurado, enxergam-se as matérias primas
interiores misturadas com outros agregados psíquicos, frutos estes de diversas
origens, principalmente dos preconceitos e erros que nos habituamos a aceitar e
continuamos a engendrar, seja da criação, seja da influência da sociedade. A
origem pode ser grosseira (agressões, vícios, luxúria, etc.) ou mais
imperceptível (costumes, sofismas, paradigmas, etc.).
Logo após de escolhida a matéria prima, o maçom deverá
fazer um desbaste acentuado, onde as maiores imperfeições são retiradas.
Podemos, simplificando, encontrar três pontos a serem trabalhados em primeiro
lugar: físico, psíquico e mental. É claro que não existem fronteiras estanques
entre eles, e que os aspectos a serem trabalhados podem conter características
de todos estes: um pouco mais de um, um pouco menos de outro.
Por exemplo, a glutonaria: existe a necessidade de se
encontrar a raiz psicológica que induziu o indivíduo a tal situação para
extirpá-la completamente; contudo, em determinados casos, se não houver uma
modificação radical no jeito de se alimentar talvez a base material onde
trabalhamos, que é o próprio corpo, pode deixar de existir e o indivíduo
simplesmente morrer, antes de encontrar essa raiz psicológica e extirpá-la.
Logo a seguir, fazemos um pequeno esboço destas
considerações acima, trazendo, de maneira superficial, algumas analogias
necessárias dos trabalhos da cantaria com os trabalhos que o maçom deve
perpetrar em si mesmo para seu crescimento e aperfeiçoamento:
Cantaria
|
Aspecto Físico
|
Aspecto Psíquico
|
|
|
Extirpação de hábitos extremamente danosos à
saúde: fumo e drogas.
|
Eliminação de sentimentos extremamente
grosseiros como ódio ou ira.
|
Considerar-se como um receptor, estando pronto
ao aprendizado.
|
Dentear
|
Aperfeiçoamento dos hábitos tendo como meta melhor saúde: alimentação.
|
Cultivo da paciência e da conformação.
|
Estudar os ensinamentos maçônicos, buscando
compreender e memorizar o relevante.
|
Cinzelar
|
Domínio de sua vida sexual.
|
Cultivo do amor fraternal.
|
Meditar sobre os ensinamentos e excluir o
supérfluo.
|
Esmerilar
|
Domínio sobre a respiração.
|
Cultivo do Amor incondicional.
|
Compreender a verdadeira natureza do Homem.
|
Polir
|
Domínio sobre todos aspectos fisiológicos.
|
Superação da individualidade.
|
Libertação dos conceitos, em busca da Suprema
Identidade.
|
Nos exemplos acima demonstrados na tabela, devemos
levar em conta que esta relação não é finalista, apenas exemplificativa. Cada
um deve aprender a conhecer seu próprio caráter e, através do estudo sincero e
objetivo, levando em conta os ensinos tradicionais, reconhecer a graduação com
que deve ser efetuado do trabalho interior. Cada um, dentro de suas
características próprias, deve saber encontrar quais aspectos deverá trabalhar
dentro de si mesmo.
O que devemos entender é que, dentro da perspectiva
maçônica, em todos os aspectos está envolvido um caráter gradual de
crescimento (veja o simbolismo da escada), que deve ser levado em conta a
partir do momento em que se decide trabalhar sobre si mesmo. Não se passa para
o próximo degrau enquanto o anterior não estiver trabalhado. Da mesma forma não
se cinzelará enquanto o denteamento não estiver totalmente pronto.
Ao se transportar à perspectiva da maçonaria
especulativa o trabalho de cantaria, percebe-se que houve uma grande simplificação,
tendo em vista que já não se tratavam mais de operários da pedra, mas de livres
pensadores, que desconheciam a espécie de trabalho efetuado, ou não queriam se
ater a este.
Contudo, dentro do conhecimento tradicional, os
trabalhos operativos tinham o objetivo meditativo, onde o artesão utilizava seu
trabalho com o sentido de se aperfeiçoar.
Como já foi descrito, havia no trabalho de
transformação da pedra bruta em cúbica uma dedicação de dias, variando
conforme a complexidade do trabalho e da dureza do material, onde uma falha
poderia fazer perder todo o processo. Por este motivo, havia a necessidade de
se ter, em primeiro lugar, paciência. Este trabalho de transformação está muito
ligado, neste caso, à paciência que temos ao abordar uma determinada
maté-ria-prima. Se vamos impetuosamente sobre ela, podemos errar. Se
utilizarmos força minúscula, podemos demorar além do necessário.
Neste
caso, as virtudes seguintes que se ligavam ao processo de transformação eram o
equilíbrio e a firmeza. Podemos, assim, já neste momento, encontrar similaridades
entre o trabalho externo, na pedra, e o trabalho interno, no caráter.
Sobre o burilar, dentear e cinzelar podemos concluir
que se tratam de processos em que a força é fundamental, sendo característico
da passagem de uma fase para a outra a diminuição da força e o aumento da
destreza. Poderíamos identificar desta forma: a) Burilar - mais força e menos
destreza; b) Dentear - força e destreza na mesma medida; c) Cinzelar - mais
destreza do que força.
Isso demonstra que os próprios processos de trabalho
no caráter também apresentam aspectos em que determinados pontos de vista
devem ser abordados. A princípio, a força é extremamente necessária para
excluir os defeitos mais evidentes. Dentro da maçonaria especulativa, os
aprendizes sentam-se no lado norte, sob a égide do Irmão 1.° Vigilante, que é o
responsável pela veiculação da força numa Loja. Este fato é bastante
característico, tendo em vista o trabalho mais forte que se deve ter quanto aos
aprendizes, ainda eivados de profanidades.
No
entanto, com a sequencia do trabalho, já a experiência (que na maçonaria é o
conhecimento teórico adquirido e praticado) aliada com a destreza vem se
tornando muito mais importante, chegando ao ponto de ser quase a única
determinante. A experiência, ou a perícia, são o aprimoramento do conhecimento
do artífice em sua própria arte. O maçom, no hábito de trabalhar sobre si
mesmo, encontra a própria arte que o conduz ao aperfeiçoamento cada vez mais
refinado.
Quando falamos nos trabalhos que efetuamos sobre o
nosso próprio caráter, sobre o cinzel e o malho, temos que levar em
consideração, também, os ensinamentos que a maçonaria especulativa transmite
aos obreiros. Abordá-los, neste momento, é necessário no sentido de nos
conduzirmos a um aprofundamento ainda maior sobre este trabalho.
Lavagnini
diz o seguinte:
(... ) o malho e o cinzel, como instrumentos
propriamente ati-vos, representam exatamente os esforços que, por meio da
Vontade e da Inteligência, temos de fazer para nos aproximarmos da realização
efetiva desses Ideais, que representam e expressam a perfeição latente de
nosso Ser Espiritual. O malho, que utiliza a força da gravidade de nossa
natureza subconsciente, de nossos instintos, hábitos e tendências, é pois,
representativo da Vontade, que constitui a primeira condição de todo progresso
e é ao mesmo tempo o meio indispensável para realizá-lo.
Isto que Lavagnini diz é simplesmente o básico a ser
mencionado sobre os aspectos da utilização do buril e dos cinzéis, juntamente
com o malho. Encontraremos em diversos autores poucas variações, nada
substanciais. Todos eles funcionam simbolicamente da mesma forma (seja o buril
ou os cinzéis), tendo, contudo, cada um, suas características próprias, já
mencionadas.
O que geralmente não se fala é quem, ou o que, é o
responsável pela movimentação dessas ferramentas supra mencionadas. Guénon nos
fala da Divina Personalidade, que é quem fala atrás da máscara - a persona, que
é a nossa individualidade.
É esta Divina Personalidade a verdadeira responsável
pelo manejo dos instrumentos. E no caso do trabalho operativo sobre o nosso
próprio caráter, a matéria prima, que somos nós mesmos, é a desculpa (grosso
modo) necessária para que esta essência real de nosso ser se manifeste. E este
é o verdadeiro trabalho do iniciado: não é olhar os instrumentos vibrando na
frente de seus olhos, mas perceber quem olha. Não é se prender à vontade e à
inteligência, mas suprimir esta atenção aos instrumentos, e voltá-la ao
verdadeiro artífice interno.
Falar mais sobre o simbolismo dos cinzéis e do malho
seria supérfluo neste momento. Diversos manuais sobre o assunto já discorreram
o suficiente para que necessitemos continuar aqui. Somente queremos alertar que
o simbolismo deve ser visto no coração, e presenciado também no coração para
que seja realmente efetivo.
Quanto ao esmerilar e polir, que são trabalhos onde a
força já não é tão importante, mas principalmente a destreza, carregam consigo
um aspecto fundamental: o movimento circular. Ao movimentar a mão com o
esmeril, ou com a lixa, o obreiro segue compassadamente uma ordem, onde toda a
superfície é atingida para se chegar ao objetivo.
Sabemos que o círculo é o símbolo do infinito e da
perfeição. A circularidade do movimento da lixa na face quadrada do cubo nos
parece carregado de reminiscência no tocante à quadratura do círculo. O círculo
vem aperfeiçoando a face quadrada da pedra cúbica.
A
utilização da água é revestida, também, de seu caráter simbólico. A água, sendo
utilizada como é, torna-se o veículo para a perfeição. E dentro do simbolismo
esotérico encontramos na alma a referência da água. A água, batizando a pedra,
torna-a capaz de receber a perfeição do artífice, bem como de chegar à realização
do trabalho. Somente através da alma o espírito pode realizar a obra.
O obreiro, neste ponto do trabalho, ao passar a mão
pela superfície completa da pedra, deve demonstrar a sensibilidade necessária
para compreender que já extraiu da pedra bruta a pedra cúbica.
Conclusão: Iniciações nos
mistérios menores e maiores