sexta-feira, outubro 27, 2006

A última lápide de Spoon River

A Edgar Lee Masters


Trabalhava na região de Spoon River
e cria ser em todos os desejos insaciável.
Estrangulava as almas até que abdicassem
de suas vozes e suas dores.

Acreditava ter uma fonte inextingüível nas mãos.
Mas as almas colhidas foram abandonando meu celeiro
em direção a alguma parte mais eterna e inefável,
como árvores fortes crescendo nas campinas
roubando-me o prazer que é
o da solidão que as almas não podem conter.

Spoon River foi-se diluindo na vegetação
onde as florestas abandonam suas fronteiras
e o algodão começa a se acomodar nas urzes.
Spoon River foi minha última colheita
em sua solitária loucura e abnegação
enquanto suas ruas sorriam e me diziam:
“Matéria no tempo... matéria no tempo...”

Ah! Agora que estou só
peço a todos perdão pela minha natureza.
Só, junto a este campo de ervas
onde ruínas e lápides apascentam.

Que me perdoem o desconhecido e o ateu;
os MacNelly, os Meyer, os Willians,
enfim, peço a todos que me perdoem o espírito
ainda que se lhes pareça vão e incompreensível.

Assim mesmo, deposito o que me resta
sobre estas ruínas de campas,
esperando pelo Juízo-Final,
pois sei que a Misericórdia Divina é mais ampla,
e o que o homem não soube compreender,
Deus o saberá.

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