quarta-feira, outubro 04, 2006

Quem é o aprendiz? (1)


Quando eu tinha cerca de dezoito anos, ouvi pela primeira vez a frase: “quando o discípulo está pronto, o Mestre aparece”. Esta frase é muito utilizada nos meios ocultistas, e até o presente momento não sei sua origem. Contudo, tenho a observar algumas coisas que percebi enquanto ouvinte daqueles que a expressavam. Segundo essas mesmas pessoas, em sua maioria, o discípulo é aquele que já está preparado para a transcendência, que lhe será dada pelo Mestre que aparece. Ou seja, alguém, para ser um discípulo deve conhecer uma gama de coisas tais que, ao receber o Mestre, este apenas vai lhe dar alguns breves retoques nestes conhecimentos adquiridos.

No entanto, depois de diversas vezes em que ouvi esta frase, um dia percebi uma nova perspectiva dela, qual seja: “Quando o Discípulo está pronto, o Mestre aparece”... Neste caso, quem é o discípulo? Discípulo é aquele que se dispõe a estudar a matéria que se lhe é apresentada, ou melhor, que se dispõe a estudar e vivenciar o que se lhe apresenta. Em sendo assim, o discípulo (ou o aprendiz) é aquele que se dispõe a aprender ( conforme a origem etimológica da palavra “discípulo”, ela provém do latim discipulus e este de discere ou disco (aprender), ou seja, o que aprende (posição ativa diante do ensinamento) ou que se deixa ensinar (posição passiva).

Mas a disposição de aprender, de ser um aprendiz, de se portar como um discípulo, tem um ato prévio extremamente importante: o de se esvaziar. Porque, segundo o que pude compreender, se o homem não está vazio de seu ego, de seus pseudo-conhecimentos, de suas insatisfações, na realidade ele não está preparado para o aprendizado. Se o cálice está cheio, como poderá ele reter o conhecimento? Onde o guardará? Se o coração está prenhe de ignorância, como poderá conceber em seu interior a verdadeira linguagem do coração? Portanto, é de total importância que o discípulo esteja vazio para que se possa preencher pelo conhecimento reparador de um mestre.

E este esvaziar-se, esta morte para uma fase de sua vida torna-se, na verdade, um nascimento para o aprendizado (já que, segundo uma perspectiva espiritualizada, a morte não existe enquanto fim em si mesma, mas apenas como passagem entre estados). Esta passagem do mundo profano para o sagrado requer o desapego intenso das coisas que o prendem nas perspectivas mundanas. A ótica deve ser mudada, e desconsiderado não aquilo que aprendeu até então, mas a perspectiva adotada para compreender o ensinamento. Ou seja: Tudo acontece na simplicidade do interior, simplicidade que existe, veja-se bem, quando despido das coisas materiais e embebido da espiritualidade.

Concluindo, o início do aprendizado começa quando nos entendemos ignorantes. E no momento que nos reconhecemos não sabedores, entramos em contato com a verdadeira fonte do conhecimento, a luz transformadora do ser, o verdadeiro Intelecto: Deus.

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu já vi uma frase diferente: Quando o discípulo está pronto, o Mestre desaparece!