segunda-feira, setembro 25, 2006

CONTRASTES (2)

Hoje a vida me acordou mais cedo. Algo de juventude se segurou em meus pulmões, e as palavras, apesar de suaves, brandiam força e expectativas. Talvez pelo rigoroso plano que o Superior me reservou devido a minhas atitudes grotescas. Talvez por entender que não sou uma pessoa intrinsecamente má, apesar de carregar algumas maldades dentro do peito. O que importa, entretanto, é que existe, afinal, um alento.

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É muito comum hoje vermos as pessoas inconformadas com seus sofrimentos; ou melhor: inconformadas não, mas revoltadas! Revoltadas com sua situação, revoltadas com o próximo por estarem do jeito que estão. Revoltadas pelas ações que a vida insiste em perpetrar contra elas, em reflexo às próprias ações que elas fazem contra o amor, contra a lealdade, contra a fidelidade, etc.

Fazendo uma análise desapegada de emoções, o que posso dizer, senão que tenho, assim como essas pessoas, me decepcionado a mim mesmo? Que minhas potencialidades e minhas ações, de forma alguma condizem umas com as outras. Que insisto em estar aquém de mim mesmo. Mas, o que é pior, é que na maior parte das vezes não se consegue enxergar alguém que não esteja aquém de seus predicados, alguém que não sofra o medo extático de se proporcionar um vôo para além.

E por que as pessoas insistem em continuar com os padrões, insistindo em sobreviver quando podiam ser felizes? Como compreender que nos amesquinhemos, muitas vezes, e no momento em que o papel principal de nossas vidas se nos aparece, insistimos em ser coadjunvantes de nós mesmos?

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Acabo de receber uma pessoa que estava me entregando um documento, e me falou sobre o costumeiro hábito de: “ôxe! Setembro já ta terminando... e a gente nem viu, né?”. Eu respondi pra ele: “setembro está terminando, o ano está terminando, daqui a pouco a vida está terminando e a gente sequer deu por ela”.

Em minha experiência ouvi diversas vezes alguém dizendo: “ontem mesmo eu era uma criança; hoje já estão crescendo cabelos brancos em minha cabeça”. Pois ontem eu estava na praia (ainda sinto em minhas mãos a textura da areia descendo pelos meus dedos) e ontem, ainda, fazia construções arquitetônicas em areia (que os adultos insistem , ainda, em chamar “castelos”). Ainda sinto o vento brincar com as gotas de suor de minha testa, colando o sal em meu rosto. E quantos anos se passaram? Trinta? Trinta e cinco?

Quando, meu Deus, vou deixar de perpetrar os mesmos padrões? Até quando ficarei aquém de minhas possibilidades? Até quando não conseguirei dissolver-me em Vós, tal como aquele sal no vento oceânico que se colava em meu rosto? Até quando? Esta é uma pergunta para a qual não há resposta, pois a pergunta já é a resposta.

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