sexta-feira, setembro 29, 2006

A importância de se comunicar...

Comunicar é um fator extremamente importante. Quando temos em mente que a forma com que nos relacionamos com o mundo é uma comunicação, ou seja, que tanto a porta para o crescimento interior, quanto a que existe para a destruição, está na forma com que nos comunicamos, vemos o quão irrelevante tem sido para nós a verdadeira comunicação.

A etimologia da palavra, ou seja, sua origem, nos reporta à idéia de “algo em comum”. Então vejamos: “lat. communìco, ás, ávi, átum, áre 'pôr em comum, dividir, partilhar, ter relações com, comunicar'”. Dentro deste sentido, existe a necessidade de, primeiro, termos algo em comum para que se estabeleça qualquer comunicação. Claro que um idioma é o canal necessário onde este “algo em comum” une duas consciências. O idioma une onde a incompreensão desune. Devemos ressaltar que um idioma não necessariamente, neste caso, deve ser formado de palavras, mas notadamente de idéias, ou melhor, de símbolos através dos quais estas idéias se expressam.

E, neste caso, existe uma gramática utilizável, que ordena a natureza do idioma e torna possível ele ser inteligível para todos que se comunicam. E pode ser que esta gramática somente exista para aqueles que entraram em processo de comunicar-se.

Por este motivo, alguém pode dizer, como já disse o poeta Jaime Sabines: “(...) as melhores palavras do amor estão entre duas pessoas que não se dizem nada”. E mais pra frente, neste mesmo poema (Espero curarme de ti) o poeta escreve: "Deve-se queimar também esta outra linguagem lateral e subversiva do que ama. (Tu sabes como te digo que te quero quando digo: "que calor faz", "me dê água", "sabe dirigir?", "fez-se de noite"...Entre as pessoas, ao lado de suas pessoas e das minhas, eu te disse "já é tarde", e tu sabias que eu dizia "quero-te"). Isso quer dizer que a linguagem pode ser a usual entre todas as pessoas, mas a comunicação se estabelece apenas quando dois seres intrinsecamente possuem algo que os une, pois a verdadeira comunicação se dá através do coração.

Vemos contudo pessoas que se dizem palavras, permanecendo, porém, incomunicáveis umas às outras. As consciências trancadas... Corações sem encontrar o contato necessário... E assim a vida vai passando e as pessoas presas em suas conchas, querendo mudar umas às outras, insistindo que o melhor idioma é o seu, desconhecendo, contudo, que suas palavras funcionam como um martelo na vidraça do outro.

É necessário dizer, também, que existem aqueles que se comunicam através do coração. Que apenas o movimentar dos olhos é o suficiente para se expressar além da insipidez do cotidiano. Que o encontrar coisas em comum trata-se, na realidade, do verdadeiro crescimento, onde os preconceitos são abandonados em benefício do próximo, e a pedra bruta vem, devagarinho, sendo lapidada. Pessoas em que sua comunicação se estabelece pelo Alto, porque sabem cantar em suas palavras a harmonia do superior; e quando dizem “hoje eu acordei cedo...” (ou qualquer coisa do gênero que sob outras perspectivas seria algo banal), sua mensagem vem carregada de vibração e essência. Para estes não existem barreiras, porque a melhor linguagem que existe para se comunicar é a que encontramos no coração do próximo.

Portanto, é uma ilusão dizer que estamos na era da comunicação, pois a verdadeira comunicação acontece na profundidade do caráter, enquanto as pessoas se movimentam na superfície. É improvável que qualquer comunicação se estabeleça entre duas pessoas que não se transformaram. As arestas impedem acharem algo em comum. A miopia não permite ver as semelhanças. O coração comunicativo é o azougue, que se funde no Ser Universal. Comunicar (com-UNI-car...) verdadeiramente une.

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