quarta-feira, setembro 20, 2006

DEPRESSÃO



Eu tive uma experiência com depressão durante três anos seguidos: dos 16 aos 19 anos. Foi uma época em que se instalou dentro de mim uma crise espiritual, em que comecei a questionar determinados aspectos de minhas crenças religiosas, inclusive a minha compreensão da Divindade (descrença, ateísmo, etc), profundamente influenciado pela minha educação católica (ou seja, pessoas mal preparadas para ensinar o que deve ser ensinado, sem ter nenhuma consciência do esotérico, da fonte da espiritualidade).

Dentro desta situação, chorava todas as noites pois o sentimento da morte tinha se estabelecido dentro de mim, e me sentia desligado de Deus (eu inclusive falava pras pessoas, nessa época, que pra mim já não era mais importante a sobrevivência após a morte, mas o conhecimento de Deus). Não tinha vontade de fazer as coisas. Era revoltado por situações de minha educação.

O rompimento com aquilo começou a acontecer aos dezoito anos, quando saí de minha casa e viajei para o norte do país. Em Roraima, no meio da floresta amazônica, fui lavrador (plantar e colher). Naquele momento, criou-se naturalmente uma disciplina (tinha que acordar seis horas da manhã, tomar café às 7:00, almoçar às 11:00, jantar às 18:00 e dormir 19:30, todos os dias), comecei naturalmente a compreender que a situação pela qual estava passando; que a minha incompreensão sobre a divindade advinha de um defeito de minha percepção, devido à minha formação materialista e extremamente racional (fruto de nossa época). Mergulhei profundamente neste sentimento, ou seja, dentro de mim mesmo. Bebi da taça de meus amargos questionamentos até o fim, até que fossem eliminados de meu interior.

Naturalmente, aos poucos, este sentimento de angústia, de prostração, foi desaparecendo, até que encontrei em meu interior, através de uma meditação, uma nova perspectiva da espiritualidade (que não dá pra explicar aqui, mas que me foi muito esclarecida pelos ensinamentos tradicionais que venho estudando, principalmente de Guénon).

Então, hoje, examinando estas situações, fica muito claro pra mim que só se iniciou este processo devido a uma falha minha de caráter. Primeiro, devido a falhas em minha família no sentido de me aproximar do espiritual de uma forma mais clara. Segundo, devido à própria educação cartesiana que temos nas escolas, que buscam o questionamento puro e simples, chegando ao absurdo de questionar o próprio questionamento (lembro-me perfeitamente que, quando entrei na faculdade de filosofia da USP, o Centro Acadêmico era anarquista, ou seja, não tinha presidente, nem secretário e nem tesoureiro! só havia uma mesa e as paredes pichadas com inscrições: "o CAF existe?").

Portanto, em minha experiência, dentro do laboratório de meu coração, entendo claramente que a situação pela qual passei foi de origem material, pois não conseguia fazer a conexão entre céu e terra, e a linguagem que utilizava no conhecimento não era o amor, mas a razão. E como a razão tem limites (e o Supremo Poder não os têm, é Infinito e Eterno), chegou um determinado momento em que percebi que esta razão não conseguia iluminar minha alma.

No entanto, pela minha falha de percepção, todo este processo havia que ser necessário no sentido próprio de cultivar dentro de mim a sede de Deus, pois racionalmente não era possível, em meu caso pessoal, superar e resolver aquelas contradições internas que eu cultivava, achando que eram religiosidade.

E, quando se pergunta e busca achar uma relação entre a depressão e uma pessoa que segue os ensinamentos espirituais de sua religião, com o sentido de buscar esclarecer, eu pergunto: será que não houve uma limitação racional no sentido do conhecimento instalado nesta pessoa quanto à sua própria religião (ou espiritualidade em todos os níveis)? Será que esta pessoa está seguindo sua tradição através do seu coração? Ou terá ela se resignando a compreendê-la através de seus processos cerebrais, da discursividade de seu próprio pensamento?

Paz a todos e um abraço.

Nenhum comentário: